sábado, 10 de maio de 2008

Lelê, o arquiteto

Eu estava olhando para o meu prédio e aí vi que o meu prédio tem a maior cara de prédio.
E os prédios do lado dele também têm a maior cara de prédio.
E os prédios do lado dos prédios do lado também.
Então eu pensei que esse negócio dos prédios serem todos parecidos um com o outro é muito chato e, se um dia eu crescer e virar arquiteto, eu vou inventar uns prédios diferentes.
Daí, para adiantar o trabalho, eu comecei a pensar como é que eles vão ser.
O primeiro que eu pensei foi o prédio-tronco. Ele é que nem um tronco gigante, todo marrom, e de madeira por fora. Também tem uns galhos, e nesses galhos tem uns apartamentos. É legal morar nesses apartamentos porque dá para pular direto para a piscina.
Na cobertura do prédio vai ter bastante planta, porque é uma árvore, né?
E a coisa mais legal do prédio-tronco é que, em vez de usar elevador, tem uns cipós que saem das janelas, e aí a gente vai descer por eles.
O chato vai ser na hora de subir. Aí acho que cada apartamento vai ter que ter uma máquina enroladora de cipó, e aí a gente segura no cipó e vai subindo.


O nome desse prédio aí em cima vai ser Edifício Tarzan.
Também pensei num prédio bacana que é o prédio-trailer. Ele tem umas rodonas bem grandes, e aí, quando o pessoal do prédio enjoa do lugar onde eles moram, eles contratam um guincho e o guincho puxa o prédio até uma outra rua.
Se o pessoal do prédio combinasse, ia dar até para todo mundo sair junto de férias. Isso ia ser bem bom, porque é legal conhecer uns lugares diferentes, mas é chato sair de casa.
Outro prédio que eu inventei é o prédio-enterrado. Em vez de ir para cima, ele ia ir para baixo da terra. E em cima dele podia ter uma praça bem legal.
Esse prédio ia ser bom porque aí a cidade não ia parecer esse monte de prédio, um atrás do outro, que nem dá para ver a cidade direito.
Uma coisa chata do prédio-enterrado é que ele não ia ter janela (mas para que janela se a gente só vê outros prédios?). Só que eu pensei numa saída. É que cada apartamento do prédio-enterrado ia ter um periscópio, e aí dava para olhar para a rua e ver se estava chovendo ou fazendo sol.
O engraçado no prédio-enterrado é que para ir para o apartamento, a gente ia descer. E para ir para o térreo, ia ter que subir.
Ele ia se chamar Edifício Raiz.



Um prédio bem bonito que eu inventei é o prédio-banana. Ele ia ser todo amarelo e cada pintinha ia ser uma janela. Mas o mais bacana é que cada um das pontas ia ficar no chão, então os carros podiam passar debaixo dele. Ou ali podia ser o parque do prédio.
Tem um outro que eu imaginei, mas que eu não sei se é bom, porque ele pode ser uma sacanagem com os vizinhos. É o prédio-chapéu. Ele é fininho embaixo, mas aí vai alargando em cima até ficar bem grandão.
O bom dele é que cabe uma porção de apartamento num terreno bem pequenininho. O chato é que o prédio chapéu faz sombra para as casas do lado. Mas, em compensação, não chove nos vizinhos.



Outro prédio que eu pensei foi o prédio-roda-gigante.
Ele vai ser uma roda-gigante-gigante, e, em vez de cadeirinhas, no lugar delas vai ter um apartamento inteiro.
O legal é que a gente ia morar às vezes lá em cima e às vezes lá embaixo. Cada vez que a gente olhasse pela janela ia ver uma coisa diferente, e aí nunca ia enjoar.
Outra coisa bacana é que ele não ia precisar de elevador. Sempre que alguém fosse sair, a roda-gigante ia girar e a pessoa já saía na rua.


E o último prédio que eu pensei foi o prédio-morro. Ele ia ser que nem um morro, verde, meio arredondado e com graminha por fora.
Já pensou que legal se a gente morasse numa cidade cheia de prédios-morros? Nem ia parecer cidade.


Lelê é o sobrinho fictício do escritor José Roberto Torero.

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